Uma mensagem do Governo Digital Brasileiro para os novos gestores públicos eleitos pelo cidadão

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Uma mensagem do Governo Digital Brasileiro para os novos gestores públicos eleitos pelo cidadão

De o Blog do MLG, no Estadão

Por Vânia de Carvalho Marçal Bareicha, Líder MLG do Centro de Liderança Pública (CLP), Coordenadora Nacional do Grupo de Transformação Digital dos Estados, DF – GTD.GOV e CONSAD.

O mundo está conectado, pessoas conectadas, interações feitas de maneira simples e automatizadas, trocas de informações de volume e velocidade jamais antes vistos na história da humanidade. Vivemos uma era digital em que as instituições públicas brasileiras têm sido intensamente provocadas a enfrentarem problemas historicamente renegados, induzindo a necessidade de simplificação da burocracia estatal e de escuta permanente ao cidadão para resolver os problemas públicos. Por conta disso, é possível dizer que dificilmente teremos outro movimento público tão potencialmente disruptivo quanto o que a transformação digital está impulsionando na Administração Pública do Brasil.

Para falar um pouco mais sobre esse movimento, é importante citar alguns ensinamentos basilares que a Estônia oferece ao mundo. Por ser a referência em Governo Digital, mesmo sendo uma nação jovem e pequena, ela tem muito a ensinar ao Brasil, porque assim como é a história brasileira, a história dela é de muitas limitações. Durante décadas ficou isolada sob o domínio da antiga União Soviética, tornou-se um país miserável, com baixo IDH, baixa expectativa de vida e alta inflação. E para reconstruir a nação uma importante decisão político-estratégica foi tomada, a de construir uma sociedade digital. Uma mudança de mentalidade das lideranças públicas feita na década de 90 e que hoje posiciona o país no topo da transformação digital mundial.

Assim, um primeiro grande ensinamento da jornada estoniana, é sobre essa mudança de pensamento. Que a inspiração de políticas públicas integradas que conectam pessoas, setores (público e privado), dados e informações públicas, bem como, o seu pensamento sistêmico e coletivo de construir uma sociedade digital que extrapola os silos e interesses setoriais público, utilizando a tecnologia como facilitadora desse processo, torne-se uma prioridade para as novas lideranças públicas eleitas. O cenário brasileiro é de uma dificuldade enorme de trabalhar políticas públicas integradas. O modelo de gestão vigente é geralmente segmentado resultando em uma série desperdícios, disfunções, gargalos públicos e que, muitas vezes, prioriza iniciativas que não extrapolam a repartição pública. Consequentemente, ao longo dos anos, perdeu-se a conexão com o cidadão e, por este motivo, as instituições públicas foram moldadas por processos carregados de excessiva burocracia, sem uma governança adequada e sem orientação a dados e evidências.

Por conta disso, a transformação digital está provocando um desconforto muito grande dentro dos governos, pois a revolução tecnológica vem exigindo novos posicionamentos e novos comportamentos. Não é fácil mudar a forma como uma instituição pública pensa e opera seus processos de trabalho. Mas essa não é mais uma escolha, é preciso fazer o óbvio de maneira simples, integrada e com base em evidências. Lembrando, não são somente os setores, os canais de atendimento, os sistemas tecnológicos e os dados que precisam ser integrados. As pessoas que trabalham no governo também. O Brasil precisa colocar em prática um modelo de gestão pública que escute o que os dados dizem e assim orientar a atuação das pessoas para a solução de problemas públicos. Isso não é sobre tecnologia apenas, é uma forma de pensar e fazer gestão pública de excelência.

Nesse contexto, outro ensinamento que o governo estoniano oferece é sobre flexibilidade, adaptabilidade e baixo tempo de resposta. Lá, bem mais do que em outros lugares, as lideranças se movimentam muito rápido para adaptar leis e regulamentações que simplifiquem a sua relação com a sociedade digital. Mais uma vez, é importante reiterar a necessidade desses novos gestores públicos serem lideranças focadas no digital, que estejam atentas e dispostas a fazer mudanças que a sociedade digital está exigindo.

E uma mensagem final aos novos gestores públicos eleitos é que toda essa revolução digital pede mais ação. O momento não é de desconstrução. O momento é de convergir esforços e fortalecer as lideranças públicas que carregam verdadeiramente um espírito público que inspira, mobiliza e orienta a construção de governos digitais que melhoram a vida das pessoas. Que os novos gestores públicos eleitos tenham coragem para reconhecer os grandes projetos de governo digital existentes nas 27 unidades federativas do Brasil e tenham a ousadia para promover os avanços necessários, orientando ainda mais toda essa jornada de transformação digital para o cidadão. A meu ver essa decisão estratégico-política se configura como pilar essencial ao sucesso de do governo digital brasileiro, bem como, peça-chave para a construção de um país mais humano e competitivo.